O Poder e as Pedras - Exposição Permanente

“O Poder e as Pedras, título que escolhi para esta minha primeira exposição individual, justifica uma breve explicação aos visitantes.

Com esta exposição retomo um caminho que interrompi há uns trinta anos, depois de em 1982, ter participado com uma dúzia de trabalhos em pedra, numa mostra coletiva na cidade do Funchal.

Frequentava então, o Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e tinha como professor o escultor Anjos Teixeira, ” o mestre”, como todos tratavam, um homem generoso e delicado, de formação e gostos convencionais, por quem tinha especial afeto e ternura, de quem escondia as minhas “pedras”, para não chocar. Aquilo não era “escultura” segundo os seus critérios.

Trabalhava-se por isso no jardim de casa, longe da escola, com inefável prazer e realização criativa. Descobria uma linguagem própria que cada nova pedra enriquecia com a sua densidade, a sua textura, a sua pele, os seus cristais, os seus segredos…

Aprendia aos poucos a falar com as pedras e nunca mais iria estar só.

No início, a relação com a matéria, os cheiros, o ruído de vibrações minerais, as cores que se insinuam em cada golpe. Depois o diálogo tenso, naquela intimidade que a ciência reprova e a arte nos exige, sem palavras, sem ideias…Sujeito e objecto apenas, na sua desigual condição…

 A experiência foi tão forte que tive então vontade de abraçar a escultura a tempo inteiro. Contudo, as circunstâncias arrastaram-me para outra vida, outras funções que, com algumas curtas interrupções, me ocuparam intensamente, em particular nos últimos anos. Mas as “pedras” estiveram sempre presentes, como um “vício”… De tal forma que as continuei a recolher nas minhas viagens pelo mundo, para as trabalhar mais tarde, quando a oportunidade surgisse.

Esta exposição é o resultado dessa oportunidade e desse “vício”, que me protegeu do pior de todos os vícios, o vício do poder…”

por Luís Amado